quinta-feira, 19 de abril de 2012


Qualidades do Professor Progressista
O educador brasileiro Paulo Freire (1996) diz que as qualidades do professor progressista vão sendo construídas na prática pedagógica coerentemente com a sua opção política de natureza crítica.

Humildade
Essa característica exige do professor coragem, confiança em si mesmo, respeito a si e aos outros; não significa acomodação ou covardia. O professor que tem humildade entende que ninguém sabe tudo assim como ninguém ignora tudo.
Não há como conciliar a “adesão ao sonho democrático, a superação de preconceitos com a postura humilde, arrogante, na qual nos sentimos cheios de nós mesmos” (Freire, 2003, p. 56).
Paulo Freire afirma que o bom senso é um dos auxiliares fundamentais, porque adverte quando o professor está perto de ultrapassar a partir dos quais se perde.
A arrogância e a empáfia não têm a ver com a mansidão do humilde. Para o autor, “uma das expressões da humildade é a segurança insegura, a certeza incerta e não a certeza demasiada certa de si mesmo” (Freire, 2003, p. 56).

Amorosidade
Para Freire, a prática docente sem amorosidade, tanto pelos alunos como pelo processo de ensinar, perde o seu significado.

Coragem
Para o autor, a coragem de lutar está ao lado da coragem de amar. O professor não tem que esconder seus temores, mas não pode deixar que eles o imobilizem. A coragem emerge no exercício de controle do medo.

Tolerância
Segundo Freire (2003, p.56), “a tolerância é a virtude que nos ensina a conviver com o diferente”. Sem ela é impossível desenvolver uma prática pedagógica séria e uma experiência democrática autentica torna-se inviável.
A tolerância possibilita aprender com o diferente e requer respeito, disciplina e ética.

Outras Características dos Professores Progressistas
Para Freire (2003), decisão, segurança, tensão entre paciência e impaciência e a alegria de viver são qualidades que estão agrupadas articuladas entre si.
A capacidade de decidir do professor é imprescindível para seu trabalho educativo. Se ele não for capaz de fazer decisões, os alunos podem entender essa deficiência como fraqueza moral ou incompetência profissional. No entanto, ele não pode ser arbitrário, em suas decisões.
Segurança, como qualidade do professor progressista, exige competência científica, clareza política e integridade ética. Para o autor, o professor não terá segurança de seu trabalho pedagógico se não souber fundamentá-lo cientificamente ou se não entender por que e para que o faz.
A tensão entre a paciência e a impaciência constitui-se, segundo Freire, como uma das qualidades fundamentais do professor. A paciência não pode ser separada da impaciência. A primeira, sozinha, faz o professor acomodar-se, renunciar ao sonho democrático, imobilizar-se, faz com que o professor tenha um discurso enfraquecido e conformado. A impaciência isolada, por sua vez, ameaça o êxito da pratica docente com a arrogância do professor. Para Freire (2003, p. 62), “a virtude está, pois, em nenhuma delas sem a outra, mas em viver a permanente tensão entre elas”.
A parcimônia verbal vincula-se à tensão entre a paciência e a impaciência. Quem assume tal tensão só perde o controle sobre sua fala em situações excepcionais, raramente excede os limites de seu discurso, que é enérgico mas, equilibrado.
Freire (2003) afirma que educando com humildade, amorosidade, coragem, tolerância, competência, capacidade de decidir, segurança, eticidade, justiça, tensão entre a paciência e a impaciência, parcimônia verbal, mesmo com falhas e incoerências, mas com disposição para superá-las, o professor cria uma escola feliz e alegre.
Hoje, espera-se do professor o preparo teórico-prático capaz de superar a fragmentação entre os domínios do conhecimento, para que ele alcance uma visão interdisciplinar. Para tanto são necessárias, segundo Libâneo (1998, p. 30-31), exigências como:
·         Conhecer estratégias do ensinar a pensar, ensinar a aprender a prender pode-se aprender a prender de muitas maneiras, inclusive mediante o ensino. Estratégias de aprendizagem são “a estruturação de funções e recursos cognitivos, afetivos ou psicomotores que o indivíduo leva a cabo nos processos de cumprimento de objetivos de aprendizagem” (Libâneo 1998, p. 30-31).
Ensinar a pensar exige dos professores o conhecimento de estratégias de ensino e o desenvolvimento de suas próprias competências do pensar. Segundo Leite (2006)
[...] se o professor não dispõe de habilidades de pensamento, se não sabe “aprender a aprender”, se é incapaz de organizar e regular suas próprias atividades de aprendizagem, será impossível ajudar os alunos a potencializarem suas capacidades cognitivas.
·         Ensinar a pensar criticamente – o professor deve ser capaz de problematizar situações, de pensar criticamente, de aplicar conceitos como forma de apropriação dos objetos de conhecimento a partir de um enfoque totalizante da realidade.
·         Desenvolver a capacidade comunicativa – o professor deve atentar-se a outros meios de comunicação – formas mais eficientes de expor explicar conceitos e de organizar a informação, demonstrar objetos ou demonstrar processos – e dominar a linguagem informal, a postura corporal, o controle da voz, o conhecimento e uso dos meios de comunicação na sala de aula.
·         Reconhecer o impacto das novas tecnologias na sala de aula – a escola deve, segundo Leite (2006),
[...] aproveitar a riqueza de recursos externos para orientar as discussões, preencher as lacunas do que não foi aprendido e ensinar os alunos a estabelecer distâncias críticas com o que é vinculado pelos meios de comunicação.
Além de fazer parte do conjunto das mediações culturais que caracterizam o ensino, os meios de comunicação podem ser usados como recursos didáticos.
·         Atualização científica, técnica e cultural – formação continuada – o exercício do trabalho docente requer um esforço contínuo de atualização cientifica na área de conhecimento dominada pelo professor e em outras áreas relacionadas, bem como a incorporação das inovações tecnológicas.
Para Leite (2006),
[...] o professor precisa juntar a cultura geral, a especialização disciplinar e a busca de conhecimentos conexos com sua matéria, porque formar um cidadão hoje é, também, ajudá-lo a se capacitar para lidar praticamente com noções e problemas surgidos nas mais variadas situações, tanto do trabalho quanto sociais, culturais, éticas. [...] Essa atitude implica em saber discutir soluções para problemas a partir de diferentes enfoques (interdisciplinaridade) contextualizar o objeto de estudo em sua dimensão ética e sociocultural, ter capacidade de trabalhar em equipe.
·         Integrar a dimensão afetiva no exercício docente – a aprendizagem de conceitos, habilidades e valores está envolvida com sentimentos ligados às relações familiares escolares e aos outros ambientes em que os alunos vivem. Para proporcionar uma aprendizagem significativa aos seus alunos, o professor deve conhecer e compreender os interesses, necessidades e motivações característicos de cada um; deve ter capacidade de comunicação com o mundo do outro, sensibilidade para situar a relação docente no contexto físico, social e cultural do aluno.
·         Desenvolver comportamento ético – segundo Libâneo (1998), é saber orientar os alunos em valores e atitudes em relação à vida, ao ambiente, às relações humanas, a si próprios.
O professor não é apenas aquele que transmite o conhecimento, mas, sobretudo, aquele que subsidia o aluno no processo de construção do saber. Para tanto, é imprescindível que ele domine não apenas o conteúdo de seu campo específico, mas também a Metodologia e a Didática eficientes na missão de organizar o acesso dos alunos ao saber. E não apenas o saber específico de determinadas matérias, mas o saber para a vida; o saber ser gente, com ética, dignidade, valorizando a vida, o meio ambiente, a cultura. Mais que transmitir conteúdos das disciplinas programadas para o desenvolvimento intelectual da humanidade, é necessário ensinar os alunos a serem cidadãos, mostrar a eles seus deveres e direitos. O professor deve trabalhar valores para formar pessoas que saibam a importância de respeitar, ouvir, ajudar e amar o próximo. Paulo Freire (1996, p. 106) diz: “Me movo como educador, porque primeiro me movo como gente”.

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